dias há em que acordo, olho o mundo à minha volta e penso que não era isto que queria para a minha vida. nem para a vida dos outros que me rodeiam. quero, não mais, mas melhor. a
lógica da qualidade tem pautado a minha vida e deve ser por isso que há dias percebi que não tinha sequer plafond em cartão crédito para reservar uma viagem (que incluía um vôo numa companhia low cost...). é por isso que pratico o voluntariado em várias dimensões da minha vida. é por isso que dou o melhor de mim a quem me merece essa atitude. é por isso que pratico a revolução todos os dias, com gestos simples e que são imperceptíveis aos olhares dos demais.
depois leio coisas como esta:
«não consigo, pela primeira vez em muitos anos continuar a enganar-me e a fingir que está tudo bem. Não vou descer a avenida cujo nome não poderia ser mais irónico: da Liberdade.» e penso, tal como o Francisco que não está tudo bem. o desemprego, a falta de poder de compra no que respeita aos bens essenciais, a redução dos salários - tudo aquilo que nós já sabemos. e que já sabíamos. mas que agora estamos a sentir na pele, no bolso, no dia a dia. como nunca.
«A actual classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, porque ela é a crise! E não falo apenas da classe política, mas da educacional, da que controla os media, da financeira, etc. Não vão resolver a crise porque a sua mentalidade é extremamente limitada e controlada por uma única coisa: os seus interesses. Os políticos existem para servir os seus interesses, não o país. Na educação, a mesma coisa: quem controla as universidades está ali para favorecer empresas e o Estado. Se algo não é bom para a economia, porquê investir dinheiro?» - diz-nos Rob Riemen (filósofo). e diz-nos ainda mais:
«O que temos de enfrentar é: se toda a gente vai à escola, se toda a
gente sabe ler, se tanta gente tem educação superior, como é que
continuam a acreditar nestas porcarias sem as questionar? E porque é que
tanta gente continua a achar que quando X ou Y está na televisão é
importante, ou quando X ou Y é uma estrela de cinema é importante, ou
quando X ou Y é banqueiro e tem dinheiro é importante? A insanidade
disto... [suspiro]
Se tirarmos as posições e o dinheiro a estas pessoas,
o que resta? Pessoas tacanhas e mesquinhas, totalmente
desinteressantes. Mas mesmo assim vivemos encantados com a ideia de que X
ou Y é importante porque tem poder. É a mesma lengalenga de sempre: é
pelo que têm e não pelo que são, porque eles são nada. E a educação
também é sobre o que podes vir a ter e não sobre quem podes vir a ser.» - Rob, you did again. tiraste-me as palavras da boca. é tão isto. (e acredita que ter que conviver com pessoas tacanhas, mesquinhas e totalmente desinteressantes, dia após dia, é todo um desencantamento brutal. e mais: «
O medo da elite comercial é que as pessoas comecem a pensar. Porque é
que os regimes fascistas querem controlar o mundo da cultura ou
livrar-se dele por completo? Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que
existe para eles. Provavelmente mais perigoso que o filósofo. Quando
usam o argumento de que a cultura não é importante e de que a economia
não precisa da cultura, é mentira! Isso são as tais políticas de
ressentimento, um grande instrumento precisamente porque eles nos querem
estúpidos.»
|
avenida da liberdade, 25 de abril de 2011 |
«
Só quando soube que vinha entrevistá-lo é que li sobre o Instituut Nexus.
Está perdoada, não somos famosos. (risos)
Porque é que decidiu criá-lo?
Quando estava na universidade percebi que já não é o sítio onde podemos
adquirir conhecimento e onde há conversas intelectuais, essenciais à
evolução. Na altura conheci um judeu que dedicou tudo – tempo, energia,
dinheiro – a resgatar o que Hitler queria destruir: a cultura europeia.
Abriu uma editora, uma biblioteca, uma livraria. Tornou-se meu professor
e começámos um jornal, o Nexus, e depois da primeira edição percebemos
que tínhamos de levar a ideia a outro nível e criar uma infraestrutura
aberta onde intelectuais de todo o mundo pudessem discordar uns dos
outros e falar de tópicos importantes. Qualquer pessoa pode participar
pagando 10 euros. Estamos sempre esgotados e temos pessoas a vir de todo
o mundo.
Qual será a próxima conferência?
É a 2 de Dezembro, sobre “Como mudar o mundo”. O Slavoj Zizek vai lá
estar, um deputado britânico conservador também, [o escritor] Alessandro
Baricco.
E no próximo ano vamos abrir um café com uma livraria europeia
e um salão cultural, num antigo teatro de Amesterdão. Se tivesse
dinheiro gastava-o a abrir um assim em cada cidade, arranjava
orquestras... Temos de reconstruir as infraestruturas culturais,
precisamos disso com urgência. E temos de ser nós porque as elites no
poder não o vão fazer.»
quando comecei a escrever tinha uma série de ideias para vos transmitir. encontrei o Rob Riemen e achei que era mais simples que ele falasse por mim. tenho que me despachar. há uma avenida para descer, em liberdade.