«A improbidade e ineficiência profissionais são talvez as características distintivas da nossa época. O artífice de outrora tinha que trabalhar; o operário actual tem de fazer uma máquina trabalhar. É um simples capataz de escravos de metal; torna-se tão embrutecido como um capataz de escravos, mas menos interessante, porque nem sequer se lhe pode chamar tirano.Tal como o capataz de escravos se torna escravo da sua função e adquire, desse modo uma mentalidade de escravo, ainda que de um escravo mais afortunado, também o capataz de máquinas se transforma numa mera alavanca biótica, numa espécie de mecanismo de arranque associado a um motor.
Participar na produção em massa pode permitir que um homem continue a ser um ser humano decente; na verdade, é algo tão vil que não o afecta necessariamente. Mas participar na produção em massa não permite que ele continue a ser um operário humano decente. A eficiência é menos complexa, hoje em dia. A ineficiência pode, por isso, passar facilmente por eficiência e ser, na verdade, eficiente.»Fernando Pessoa
Pessoalmente, considero que o método taylorista se encontra simultaneamente ultrapassado e em voga; ultrapassado pelas novas concepções e influência da inteligência emocional nos Recursos Humanos e em voga pelas organizações que preferem o automatismo na prestação dos seus colaboradores (exº flagrante: MacDonald's). Neste último caso, pode um colaborador ineficiente tornar-se eficiente simplesente por cumprir com os passos que lhe são definidos a priori. No primeiro caso, pode um colaborador brilhante e com capacidades intelectuais acima da média revelar-se ineficiente na utilização do Office, por exemplo. (Veja-se o caso de Albert Einstein: um homem que pensou e teorizou aquilo que se conhece e que, no entanto, sempre se recusou a aprender a consuzir, por achar que se tratava de um actividade complexa…)
A palavra trabalho tem origem no latim
tripallium, que era um instrumento de tortura utilizado, julgo, na medievalidade. Não admira, pois, que o trabalho constitua para a maioria de nós uma forma de tortura, um frete ou um castigo. Praticamos um trabalho maquinal e autómato, porque todo o sistema é ele uma máquina. O trabalho não é considerado como um meio de libertação do ser humano, de realização da plenitude das suas capacidades (intelectuais, espirituais, emocionais, lógicas). Na minha perspectiva, tal não acontece porque não se cultiva, por exemplo, a perspectiva de comunidade proposta por Platão, na República. Não se atende às capacidades inatas de cada ser humano, procurando que o mesmo possa utilizá-las a favor da sua evolução e da evolução da sociedade em que se insere. Para Platão, o filho de um escravo poderia ser filósofo - se apresentasse capacidades e as virtudes de um filósofo. Assim também o filho de um filósofo poderia ser camponês, por apresentar características nesse sentido. Na actualidade, vemos que todos querem ser algo que verdadeiramente não são, para o qual não estão minimamente talhados. A minha leitura da perspectiva sobre os Recursos Humanos parte de uma perspectiva mais profunda, de índole metafísica: como é que o trabalho pode funcionar de forma harmoniosa se os alicerces da nossa sociedade estão desgovernados e fragilizados? Como é que podemos ser eficientes, eficazes, inteligentes emocionalmente no trabalho se não o somos connosco próprios e com a comunidade (comunidade que no fundo não existe)?