Que saudades do silêncio. De o ouvir, sem o zumbido constante na minha vida, há praticamente um ano. E nesta altura posso dizer algumas das coisas que me afectam e provocam um aumento de zumbido e mesmo a vertigem:
- as mudanças de tempo, nomeadamente o nevoeiro, os primeiros dias de chuva, com aquela humidade renhonhó (é um termo técnico fabuloso este);
- alguns medicamentos, nomeadamente o Rosilan que tomei na altura em que arranquei os dentes do ciso e que me provocou uma crise com direito a vómitos, tonturas e todo um mal estar.
- o uso continuado do computador no trabalho; consigo tolerar muito melhor o portátil do que o desktop. Já li num fórum que isto acontece com outras pessoas. Já tenho a luminosidade do monitor reduzida, uso óculos com lentes escuras para o trabalho ( o que me dá um ar muito freak).
- alguns barulhos/sons incomodam muito: o bater de portas, alguns equipamentos do trabalho que fazem barulho contínuo. Há dias em que não dá sequer para ouvir rádio.
- as luzes dos carros à noite. Não se admirem se me virem a conduzir de óculos escuros, à noite.
- alguns cheiros, nomeadamente ambientadores e detergentes muito activos.
Portanto, luz, som e cheiro: são estímulos que podem afectar-me. E afectam-me como? Há dias em que a «irritação» de zumbido é tal que nem apetece ouvir nada, nem ninguém. Há dias em que ter que lidar com pessoas, no atendimento ao público é todo um esforço. E a luz do sol é insuportável.
Mas aquilo de que sinto falta é mesmo do silêncio. Não sabem a bênção que é deitar a cabeça no ouvido e não ouvir um ZZZZzZzzZZzttttttttt constante.
Outra coisa que não suporto é a forma como isto é encarado. Isto, a vertigem. As pessoas não sabem do que se trata, como se trata, qual é a origem. Mas basicamente (e podem tomar nota) é assim:
- na maioria dos casos, a causa não é identificável, havendo várias situações que podem causar a crise e que dependem de pessoa para pessoa,
- os exames que os otorrinos pedem servem só para gastar dinheiro (basicamente). O que vale a pena fazer é o exame para controlar se há perda de audição.
- a crise não é igual para toda a gente: há quem vomite imenso, quem «só» sinta tonturas, quem veja o nível de acufeno aumentar. Quem precise de um dia para recuperar, quem precise de três ou quatro.
O que mudou na minha vida, um ano depois?
Ginásio: a ideia de voltar a fazer body combat agrada-me a montes, mas o facto de estar numa sala fechada com um forte estímulo auditivo (A música aos berros) não me agrada. Sim, tenho ido a concertos. Mas nos dias seguintes o acufeno aumenta brutalmente.
Tenho faltado ao emprego; há dias em que é mesmo insuportável estar a atender ao público, lidar com o barulho das máquinas, com o computador. E quando tens alguém a dizer «se não estás bem fica em casa» em vez de te aliviar a carga de trabalho… então tu ficas mesmo em casa.
Noto que preciso de dormir mais (para quem dormia 5 ou 6h por noite, dormir 7 ou 8h é assim brutal!).
O que não mudou na minha vida, um ano depois?
Não deixei de andar de avião: cinco meses depois da crise fiz 11h de avião para Maputo e outras tantas de volta. Sem problemas.
O ritmo acelerado de outros tempos: implica ter um emprego com horário fixo, 1001 projectos, dar formação, fazer voluntariado, escrever para revistas, ir ao ginásio, estudar, ir ao cinema, ir ao teatro, estar com a família e amigos.
E a pergunta clássica: projectos para o futuro?
Viajar, de avião. Sempre que possa. E sem medo.
Voltar ao ginásio. Caminhar e usar a elíptica.
Marcar consulta para otorrino, para ver como está a audição (anualmente).
Saltar de páraquedas (outra vez).
Perder dez quilos e não os voltar a encontrar.